29 janeiro 2013

Programa ALESTE da Zona Leste


 “ALESTE da Leste” Terça-Feira dia: 29/01/2012

Este programa é uma produção da Rede Vale Comunicações para a Associação Amigos da Zona Leste de São José dos Campos, com a responsabilidade Editorial do Jornalista Filipe de Sousa.

Obrigados ouvintes por vossa audiência
ESPERAMOS que gostem dos temas e da seleção musical de hoje
Voltamos já.
Com notícias e comentários de nossa cidade.
Fiquem conosco
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BLOCO DE NOTÍCIAS (vinheta)
Olá amigos, boa noite.

Carnaval Cultural promete agitar as 3 Casas do Idoso
O Carnaval será comemorado em grande estilo nas três Casas do Idoso da cidade (centro, sul e leste), de 4 a 9 de fevereiro. A programação foi elaborada em conjunto com a Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR) e prevê a realização de bailes, oficinas e desfiles.

A programação começa na segunda (4 de fevereiro), com oficinas de marchinhas das 9h às 11h. Na parte da tarde, das 14h às 16h, ocorre uma oficina de máscaras e adereço, na qual os idosos poderão preparar as próprias fantasias que irão usar durante os bailes de Carnaval. As oficinas prosseguem até quinta-feira (7 de fevereiro), nos mesmos horários.

Na sexta-feira (8 de fevereiro), às 9h, está programado um desfile com os blocos da Casa Sul. E das 15h às 17h, um baile simultaneamente nas Casas Sul e Leste. E no sábado (9 de fevereiro), o baile está programado para a Casa Centro, das 15h às 18h. Os bailes terão música ao vivo e para entrar no clima da festa as aulas de dança já estão sendo direcionadas para os ritmos de Carnaval.

Todos os eventos são gratuitos e abertos para pessoas com mais de 60 anos. Não há necessidade de inscrição prévia.
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Sindicato dos Metalúrgicos e GM fecham acordo
O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e a direção da GM acabam de fechar um acordo sobre os 1598 funcionários considerados excedentes pela empresa.

A reunião durou o dia todo e foi mediada pelo Ministério do Trabalho e pela Prefeitura, que esteve representada pelo próprio prefeito, o Chefe de Gabinete e os secretários de Desenvolvimento Econômico e Ciência e Tecnologia e de Relações do Trabalho.

A Prefeitura cumprimenta as partes pela maturidade ao longo do processo de negociação, que resultará em novas perspectivas para a planta da empresa em São José, como o investimento de R$ 500 milhões e a manutenção da produção do Classic.

Em entrevista coletiva, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Antonio Ferreira de Barros, esse acordo foi o possível para evitar o número de demissões previstas.

Ele informou que um dos pontos do acordo é que a produção do Classic será mantida até dezembro, garantindo o emprego dos trabalhadores da Montagem de Veículos Automotores (MVA). Mas a pergunta que fica é: E depois?

O presidente do Sindicato também comemorou o anúncio do investimento de R$ 500 milhões na planta de São José dos Campos, resultante do acordo.

Também durante a entrevista coletiva, o gerente de relações institucionais da GM, Luiz Moan, agradeceu a mediação da Prefeitura e do Governo Federal. "A grande virada no processo de negociação se deu pela ação dessas duas autoridades", disse, referindo-se ao prefeito de São José dos Campos e ao representante do Ministério do Trabalho.

Moan destacou ainda que esse acordo recolocou São José dos Campos na rota de investimentos da GM no Brasil. Ele assumiu o compromisso com a Prefeitura, Governo Federal e Sindicato dos Metalúrgicos de negociar novos investimentos na cidade assim que um produto da montadora vier para o Brasil.

O gerente de relações institucionais da GM elogiou a política econômica do Governo Federal que fortaleceu a indústria automobilística no Brasil.
Moan disse que esse acordo abre novas perspectivas para GM de São José dos Campos, a qual ele tem esperança de ver novamente com o número de trabalhadores do passado, por ser uma planta já estabelecida.
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Procon alerta consumidor para pesquisar preços
O Procon de São José dos Campos divulgou nesta sexta-feira (25) uma pesquisa de preços de 17 itens de material escolar, em 11 estabelecimentos da cidade. O levantamento leva conta os maiores e os menores preços e constatou grandes variações entre os itens mais baratos e os mais caros. Considerando o custo médio dessa cesta de produtos, houve uma redução de 39%.

A recomendação aos consumidores é de pesquisar e, quando possível, fazer compras em conjunto para aumentar a quantidade de produtos e obter maiores descontos junto aos comerciantes. O levantamento foi feito na primeira quinzena de janeiro e encontrou grande variação também entre itens, como por exemplo, apontadores com preços de R$0,15 até R$ 10. Já o papel sulfite comum apresentou diferenças de preços de até 60% entre as lojas pesquisadas.

Para o Procon, o ideal é que se consiga uma boa relação entre o custo e o benefício, por isso é importante levar em consideração a qualidade, a durabilidade e o desempenho do produto em relação ao seu custo. “Nem sempre o de preço inferior oferece a melhor qualidade”, lembrou o diretor do órgão Sérgio Werneck.

Ele recomenda aos pais que fiquem atentos aos abusos nas listas. Papel higiênico, tinta de impressora, material de limpeza e copos descartáveis não são considerados materiais pedagógicos, por isso não podem compor a lista. Outra prática que deve ser denunciada é a indicação de marcas e locais para compra.
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Alunos do Senai permanecem com o beneficio da meia passagem

A Secretaria de Transportes em reunião com representantes do Consórcio 123 e do SENAI acordou que os alunos da instituição regularmente matriculados até o primeiro semestre de 2013 nos cursos de aprendizagem industrial e de formação continuada, que não se enquadram na caracterização de ensino técnico profissionalizante reconhecido, terão o beneficio da meia passagem garantindo até o final do curso.
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Prefeitura contrata 320 professores temporários
Um grupo de cerca de 320 professores temporários, que está sendo contratado pela Prefeitura de São José dos Campos, participou do processo de atribuição de aulas na passada quinta-feira (24), na quadra de esportes da Secretaria de Educação, na Vila Industrial. Os professores ficarão à disposição da Rede de Ensino Municipal (REM) no decorrer do ano.

O objetivo da Prefeitura é garantir um ano letivo de qualidade, sem correr o risco de que faltem professores nas escolas municipais. Os professores temporários, chamados de Prazo Determinado (PD), vão atuar como substitutos dos efetivos sempre que necessário – em casos de licenças médicas, falecimentos e outros.

São ao todo 600 vagas para contratos temporários, 300 para nível P1 (anos iniciais) e 300 para P2 (anos finais), e mais 730 para aulas eventuais. Todos aprovados por meio de concurso ou processo seletivo.

Muitos professores temporários saíram satisfeitos com as atribuições. Foi o caso de Diogo Ribeiro Gonçalves, 33 anos, que vai ministrar aulas na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Mercedes Rachid Edwards, no distrito de São Francisco Xavier. “Já dou aula nesta escola há quatro anos e estou feliz que tenha conseguido novamente”, disse.

A professora Maria Lúcia de Lima Mendes, 47 anos, atua na rede como temporária desde 2009 e irá trabalhar na EMEF Maria Amélia Wakamatsu, no bairro Campos de São José, na região leste. “Trabalhei na escola Maria Amélia por dois anos, mas no ano passado acabei não conseguindo. Estou satisfeita em poder retornar”, afirmou.

Já as atribuições dos 60 professores efetivos, aprovados entre os concursos de 2009 e 2010, ocorreram na passada quarta-feira (23). Eles já estarão nas salas de aula no início do ano letivo – dia 7 de fevereiro.

Para orientar os professores da rede, a Secretaria de Educação disponibilizou os telefones 3901-2164 ou 3901-2008.
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O Programa GOSTO DE LER ultrapassa a marca de meio milhão de livros
Com a distribuição de mais 81 mil livros infanto-juvenis em 2012, o Programa Gosto de Ler, da Prefeitura de São José dos Campos, ultrapassou a marca de meio milhão de exemplares distribuídos aos alunos das redes municipal e estadual. A iniciativa abrange alunos do ensino fundamental regular e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

O Programa começou em 2007 com a compra de livros e no ano seguinte passou a editar as obras. O Gosto de Ler trabalha com textos clássicos de domínio público, traduzidos para o português. Entre as publicações, estão, por exemplo, contos da coleção dos Irmãos Grimm, das Mil e Uma Noites, de Hans Christian Andersen.

Além de textos escolhidos por critérios didáticos e de qualidade, os livros são ilustrados por profissionais como forma de as publicações mais atrativas para as crianças, adolescentes e adultos dos cursos de alfabetização. Na rede de ensino municipal, os livros também são trabalhados pelos professores responsáveis pelas Salas de Leitura, incentivando o hábito de ler.

O objetivo do Gosto de Ler é criar uma relação e estimular na criança o interesse pela leitura e por “seus livros” e, ao mesmo tempo, introduzir as obras na casa, para fixar a ideia de que livro não é coisa só de escola. Em muitos casos, os exemplares do programa são os primeiros que as crianças ganham e passam a ter como seus.
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Para quem quiser conhecer tudo sobre a nossa cidade, A Prefeitura está disponibilizando uma publicação suficientemente completa.

São José em Dados 2012 poderá ser adquirido pela população
A Prefeitura coloca à venda, a partir desta semana, exemplares da publicação “São José em Dados 2012”, que pode ser adquirida no setor de Protocolo, no andar térreo do Paço Municipal. Cada exemplar tem 120 páginas e custa R$ 18, conforme preço fixado em portaria publicada no Boletim do Município.

“São José em Dados” é um documento que reúne grande quantidade de informações sobre o município e se destina a facilitar pesquisas em todos os níveis, além de difundir o conhecimento sobre São José dos Campos. Abrange diversos aspectos ligados à história, geografia, demografia, patrimônio histórico, economia, saúde, indicadores básicos, infraestrutura, turismo e outros.

A publicação foi produzida pela Secretaria de Planejamento Urbano e também está disponível no formato PDF no site oficial da Prefeitura, para download gratuito..
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Avaliação aponta bairros mais infestados com a dengue
A Prefeitura de São José dos Campos está intensificando o combate ao mosquito Aedes aegypti em todo o município com nebulizações, que é a aplicação de inseticida, e ações de orientações casa a casa para a eliminação dos criadouros. De acordo com resultados preliminares da primeira semana da Avaliação de Densidade Larvária (ADL) de 2013, as regiões de maior infestação de larvas do mosquito são:

- Região do Jardim São José, Novo Horizonte, Santa Cecília I e II
- Região do Campo dos Alemães, Dom Pedro e Jardim Interlagos
- Região do Jardim Aquarius, Jardim das Indústrias e Jardim Alvorada
A Avaliação de Densidade Larvária (ADL) de 2013 será feita até o fim desse mês em 14 mil residências. Já foram trabalhados 6 mil domicílios em todas as regiões do município.

Com a ADL é possível saber os níveis de infestação de larvas do mosquito Aedes aegypti de uma determinada área geográfica, assim como o tipo de recipiente que possa acumular água predominante em cada região. A partir dos resultados dessa avaliação é possível direcionar e/ou intensificar algumas medidas ou alterar as estratégias de controle das larvas do mosquito da dengue.

A melhor forma de evitar a dengue é a prevenção e a população tem papel fundamental para que isso ocorra. É essencial evitar água parada para que não haja a formação de criadouros do mosquito. Como por exemplo, não deixar acumular água vários tipos de objetos como vasos, garrafas, lajes e calhas. 

São José dos Campos registrou esse ano 11 casos de dengue contraídos no próprio município. Em janeiro de 2012, foi um caso. Os sintomas da doença aparecem de 3 a 15 dias após a picada do mosquito Aedes aegypti. Entre eles estão:
Dor muscular e nas juntas;
Dor de cabeça e no fundo dos olhos;
Febre alta de início repentino;
Manchas vermelhas no corpo;
Falta de apetite;
Desânimo;
Às vezes, ocorre sangramento de gengiva e nariz;
Quem tiver dois ou mais desses sintomas, é recomendável procurar um médico.
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O nosso bloco das principais notícias de nossa cidade termina por aqui. A seguir iremos falar um pouco sobre a tragédia de Santa Maria... Mas sobre um outro ponto de visão. Não sobre o ponto do sensacionalismo!
Um assunto que tem ocupado as mídias e fez a consternação de todo o País, foi o desastre de Santa Maria no Rio Grande do Sul, mas, afinal o que poderia ter evitado esse desastre?
Negligência, superlotação, falta de fiscalização, estrutura deficiente e uso de pirotecnia.
Essas são algumas das hipóteses que, somadas, teriam contribuído para a tragédia da madrugada do último domingo na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, na qual morreram pelo menos 231 pessoas.

Outras 106 continuam hospitalizadas, pelo menos 16 em estado grave.

Famosa por abrigar festas universitárias, a boate era ponto de encontro de estudantes e tinha capacidade máxima para 2 mil pessoas.
Alguns falam em mil pessoas. Mas não estava adequada nem para mil nem para duas mil.

Este é o segundo incêndio mais fatal da história do Brasil, em casas de espetáculo.
A pior tragédia deste tipo ocorreu em 1961 no Grande Circo Brasileiro, em Niterói, quando 503 pessoas perderam a vida.

A BBC Brasil conversou com especialistas que elencaram possíveis fatos que poderiam ter culminado na tragédia, a partir da análise de depoimentos de testemunhas e autoridades locais e as causas apontadas fora:

Possível negligência
Possível superlotação
Possível falta de fiscalização
Possíveis deficiências estruturais
Uso de pirotecnia

Boate Kiss estava com alvará de funcionamento e plano de prevenção contra incêndio fora da validade e um dos proprietários da boate Kiss confirmou, em depoimento à Polícia Civil, que o alvará de funcionamento da casa noturna estava vencido desde dezembro do ano passado.
Além disso, segundo o coronel nacional de Defesa Civil, Humberto Viana, o local funcionava também sem o Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndio (PPCI), que havia expirado em agosto de 2012. Entretanto, o estabelecimento estava liberado para operar até nova perícia.

Emitido pela Prefeitura com base em pareceres dados por outros órgãos, o alvará é uma licença que autoriza que determinada atividade seja exercida em determinado local.

Já o PPCI, segundo definição da própria Brigada Militar do Rio Grande do Sul, é "um processo pelo qual todo o proprietário ou responsável por prédios com instalações comerciais, industriais, de diversões públicas e edifícios residenciais com mais de um pavimento deve possuir".

O documento é expedido pelo Corpo de Bombeiros a partir de uma inspeção. Na vistoria, o órgão verifica se o estabelecimento cumpre as normas vigentes de acordo com a atividade exercida no local, como a existência de extintores de incêndio e saídas e iluminação de emergência.

Especialistas ouvidos pela BBC Brasil consideram que, apesar de a casa noturna já ter obtido a permissão de funcionamento no passado, uma vez que os documentos são necessários para a abertura de qualquer estabelecimento comercial, a manutenção das atividades de um local com licenças vencidas aumenta o risco para os usuários.

"Houve relatos, por exemplo, de que os extintores não funcionaram. Em tragédias como essas, sempre há situações muito óbvias que acabam negligenciadas", afirmou à BBC Brasil Carlos Wengrover, engenheiro e coordenador do comitê brasileiro de segurança contra incêndio no Rio Grande do Sul.

"É preciso saber se a casa cumpriu à risca as normas determinadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), como, por exemplo, a existência de iluminação de emergência", acrescenta Wengrover.

O fogo que deixou pelo menos 231 mortos na madrugada do último domingo em Santa Maria, no Rio Grande do Sul acabou por revelar a precariedade da estrutura da boate Kiss, onde a tragédia ocorreu.

A pedido da BBC Brasil, a avaliação feita por Ivan Ricardo Fernandes, engenheiro civil e capitão do Corpo de Bombeiros do Paraná, indica que a casa noturna não cumpria normas técnicas básicas de segurança contra incêndios, como capacidade de lotação e número suficiente de saídas de emergência.
A estimativa foi feita com base em características estruturais do local, após análise de imagens e relatos de testemunhas.

Famosa por abrigar festas universitárias, a casa noturna informava poder abrigar até 2 mil pessoas.
Porém, com apenas 650 metros quadrados de área, o limite máximo de público, de acordo com normas técnicas, não poderia ultrapassar 1,3 mil pessoas.

"As regras (de segurança contra incêndio) mudam de acordo com a ocupação, altura e características construtivas do estabelecimento", explica Fernandes.
"A diretriz da normativa é dada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)".
No que tange ás Saídas de emergência
Além disso, considerando os mesmos padrões exigidos pela ABNT, a largura total das saídas da boate Kiss deveria ter, pelo menos, 7 metros, calcula Fernandes.
Segundo testemunhas, entretanto, só havia uma porta de 2 metros de largura, que servia de entrada e saída do público.
"Para um estabelecimento com uma única saída de 2 metros, por exemplo, a capacidade máxima seria de 400 pessoas", diz Fernandes.
Mesmo assim, lembra o especialista, "por ser uma casa noturna", a boate Kiss deveria ter, pelo menos, "duas saídas de emergência".
"Entretanto, pelo que vi em imagens da boate, só haveria uma rota de fuga, que era a própria porta de entrada e saída", afirma Fernandes.
Ainda com base nas normas da ABNT, estima Fernandes, a distância máxima a ser percorrida de qualquer lugar do estabelecimento até a saída não poderia exceder 30 metros.
"Porém, isso também não parece ter sido respeitado, uma vez que declarações dos bombeiros indicam que muitos corpos foram achados no fundo do local", afirma.

Diante disso, perguntamos: Como então o laudo dos Bombeiros foi emitido?

Há exatos dez anos, um incêndio em uma casa noturna da cidade de West Warwick, no Estado americano de Rhode Island, deixava cem mortos e um país inteiro estarrecido.

Prisões, indenizações milionárias e uma década não conseguiram, entretanto, trazer o tão esperado desfecho para muitos dos sobreviventes e parentes de vítimas fatais do incêndio na boate The Station, cujas circunstâncias já estão levando a associações com a tragédia de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

"Nossos pensamentos estão com as vítimas dessa tragédia no Brasil. Esse é um pesadelo que ainda vai ficar pior antes de a poeira começar a baixar", disse à BBC Brasil uma das sobreviventes do incêndio de Rhode Island, Gina Russo, que atendeu à ligação da reportagem como quem já esperasse um contato.

"Daqui a muitos anos as pessoas ainda vão estar lutando para entender o que aconteceu. Fico de coração partido por cada uma delas, porque sei o que elas estão passando."

No dia 20 de fevereiro de 2003, Gina era uma das centenas de pessoas que assistiam ao show da banda The Great White, quando fogos de artifício que faziam parte do espetáculo acidentalmente iniciaram o fogo na boate da cidade localizada a uma hora de Boston.

Nos Estados Unidos levou a prisões e indenizações. E por aqui o que será que vai dar?

Sobrevivente da tragédia nos EUA, Gina Russo diz que pesadelo só piora conforme o tempo passa.

As chamas se espalharam com o revestimento acústico da casa, uma espuma de material químico altamente inflamável, que não apenas gerava fumaça tóxica ao queimar, como pingava do teto, queimando a pele do público.

As investigações posteriores mostraram que a casa estava superlotada e que não possuía saídas de emergência adequadas. Várias pessoas foram pisoteadas ao tentar deixar o local, o que apenas piorou a obstrução das portas.

Gina conseguiu escapar, mas teve 40% do corpo queimado. Já passou por 54 cirurgias. Conhece pessoas que já passaram por mais de cem operações, que ficaram cegas, que tiveram queimaduras pelo corpo inteiro.

Ou simplesmente que não escaparam. Como seu noivo à época, Fred Crisostomi.

Prisões e indenizações

Em número de mortes, o incidente foi o quarto incêndio em uma casa noturna mais destruidor da história americana, de acordo com a Associação Nacional de Proteção contra Incêndios (NFPA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

O clamor público gerado em toda a região da Nova Inglaterra, no leste do país, levou a uma mudança nas leis que exigem que os locais de agremiação pública instalem borrifadores de água (sprinklers) para casos de emergência (erroneamente, a The Station havia sido isenta de instalá-los, com base na idade do prédio).

Os co-proprietários da casa, os irmãos Michael and Jeffrey Derderian, e o gerente da banda, Daniel Biechele, foram a julgamento.
Michael e Daniel receberam penas de prisão de 15 anos, mas através de uma combinação de acordos para reconhecer a responsabilidade e bom comportamento, só cumpriram entre dois e três. Jeffrey foi condenado à prestação de serviço comunitário.
Além disso, os familiares e as vítimas conseguiram processar com sucesso várias empresas envolvidas no evento – desde as companhias responsáveis por produtos químicos e materiais de construção, até a fabricante de cerveja que estava promovendo o show.

Segundo o Providence Journal, jornal da capital de Rhode Island, as compensações somavam US$ 175 milhões (cerca de R$ 355 milhões) até 2010.

No fim do ano passado, a associação de vítimas do desastre, The Station Fire Memorial Foundation, presidida por Gina, conseguiu que fosse erguido um memorial no local para marcar o incidente.

Depois de muita pressão pública, o terreno foi doado pelos ex-proprietários para a Fundação, que pretende começar as obras em março ou abril próximos.

Gina diz que pretende construir algo "bonito" para tentar "trazer paz" aos sobreviventes e suas famílias.

Sobre a Justiça
Mas apesar dos avanços, Gina ainda considera que o preço pago pelos responsáveis da tragédia foi pequeno.

"Muito mais gente deveria ter sido investigada: responsáveis pela fiscalização, os responsáveis pela fiscalização de incêndios, as autoridades que deram o aval para o uso de pirotecnias dentro da casa", disse ela à BBC Brasil. "Tudo isto ainda é motivo de muita dor entre os familiares."

Em um livro minucioso (The Killer Show, um trocadilho que se pode traduzir como "O Show Matador"), o advogado das vítimas, John Barylick, compara a tragédia da The Station com desastres como o do Titanic, em que os acontecimentos são uma sucessão de erros que ninguém conteve a tempo.

"Se a fiscalização tivesse feito o seu trabalho, se a casa tivesse empregados treinados para emergências, se não houvesse superlotação, se não tivessem feito uso de pirotecnicas ilegais dentro de um lugar fechado, se não tivessem usado nas paredes uma espuma inflamável que um analista chamou de ‘gasolina líquida’, se a casa tivesse saídas de emergências adequadas, poderia ter-se evitado o incêndio ou pelo menos tantas mortes", disse ele, em uma entrevista à rádio pública americana, NPR.

Gina diz que a tragédia mudou radicalmente a sua vida, e que pensa no ocorrido "todos os dias".

Ela lamenta que incidentes como a que lhe afetaram pessoalmente não sejam ouvidos e que acidentes como as que marcaram também a Argentina, a Rússia, a China e agora o Brasil ainda ocorram apesar das lições da história.

"Dou várias palestras – será que alguém está escutando? Será que valeram a pena os últimos dez anos?", questiona. "Ninguém quer escutar, porque a coisa toda gira em torno do lucro."

"Tenho muita pena das pessoas que morreram (na tragédia de Santa Maria) e dos seus familiares. E para as pessoas que ficaram queimadas, rezo que tenham acesso aos melhores tratamentos de saúde, os melhores cuidados disponíveis."

Vamos aguardar para ver o final então das investigações aqui no Brasil e os resultados. Será que serão iguais aos resultados dos Estados Unidos da América? Será que alguém vai ser responsabilizado?
Será que alguém vai ser preso?
Será que alguém irá indenizar as famílias das vítimas?

Não temos muitas esperanças... mas... vamos aguardar!
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LEI DA MORDAÇA?
Por muito tempo funcionários públicos foram coagidos a cumprirem ordens "não muito claras".

Assunto polêmico essa tal de insubordinação...

Questionar uma ordem mal dada seria insubordinação?

Questionar uma ação pública seria "manifestar-se de modo depreciativo"? O que é depreciativo?

Depreciativo, diz o dicionário, é depreciar, dizer algo de modo pejorativo (palavra que vem do latim "pejoráre", que significa "tornar pior". Será que quando um funcionário se manifesta questionando algum problema ou mostrando para a população o que algumas autoridades do Executivo, Legislativo ou Judiciário (salvo segredo de justiça) querem esconder, está agindo de modo depreciativo?

A chamada Lei da Mordaça é um reflexo das ditaduras onde os funcionários eram impedidos de expressar sua opinião, questionar alguma ordem "mal dada" ou mostrar para a a população o que vinha sendo feito de errado nas administrações públicas.

Em muitos municípios essa lei ainda impede que vários funcionários cumpram com a sua função.
Uma das maiores queixas que eu recebo, reproduzo-a abaixo:
Um gestor escolar que queira cumprir com a Lei 8.069/1990, Art. 56 - II (Comunicar ao Conselho Tutelar os casos de evasão escolar) só pode fazê-lo mediante aprovação de um superior. O superior por sua vez vai consultar outro superior que vai vetá-lo, pois enviar uma família ao Conselho Tutelar pode resultar em perca de votos. Se esse funcionário sentir-se coagido não poderá fazer nada, pois a tal "Lei da Mordaça" o impede de agir.

No exemplo acima a manifestação do gestor seria um caso de insubordinação? Ele estaria agindo de modo "depreciativo", caso resolvesse comunicar à sociedade o ato de censura?

Todo funcionário quando é contratado tem suas funções, suas obrigações. As obrigações são regidas por legislação própria. Legislação que não pode estar acima da Lei Federal. Portanto, entendo que a autonomia do funcionário está regida pela sua obrigação formal, e não com o parecer de alguém que tem outros interesses.

O caso do Município de Guarulhos é, no mínimo, instigante. A Lei Nº 1.429/1968 Art. 172 -  diz que é proibido ao servidor municipal "referir-se de modo depreciativo em informação, parecer ou despacho às autoridades e atos da administração pública, sendo-lhe permitido, porém, em trabalho assinado, criticá-los do ponto de vista doutrinário ou de organização do serviço". Adiante, a Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 5 diz que "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença".
Em 2002 foi aprovada a Lei Nº 5.809 que aplica PENALIDADES À PRÁTICA DE "ASSÉDIO MORAL"NAS DEPENDÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA POR SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS.

Ainda que a Lei 5.809 seja carregada de "boas intenções" e, sinceramente, é muito louvável, o que precisaria ser REALMENTE REVOGADO é o referido Art. 172 - I, pois o conceito de "pejorativo" não é lá muito claro. Até porque, o Art. 184 - IV da Lei 1.429/1968 deixa bem claro que "insubordinação em serviço" é punido com a demissão.

É interessante ver como as legislações se contradizem e abrem enormes abismos para que cada um interprete como se queira. O desgaste de um servidor que trabalha na linha de frente tem para se defender de algum outro servidor "mal intencionado" é tamanho que a maioria prefere se calar e obedecer a ordem (ainda que esta seja contra uma lei maior, nesse caso Federal, como o exemplo do Conselho Tutelar citado acima).

Acreditamos viver em um país "livre" em que todos tenham o direito de expressar a sua opinião e, principalmente, ter o direto de divulgar ao público aquilo que vem sendo feito de errado. Afinal, se são "Funcionários Públicos", devem servir ao PÚBLICO e não a um grupo político passageiro que está no poder.
Você já pensou em uma sociedade que tenha capacidade relativa de
 Se autogerenciar?

A Democracia se reinventa e com o advento da tecnologia será o homem, ser social, um dia capaz de criar estruturas diretas de autogestão?

A Sociocracia (Socio = sociedade; kratos = poder), onde o poder emana da sociedade de forma direta e participativa. Imaginem caros ouvintes, uma sociedade que os dirigentes de órgãos da Administração Direta e Indireta, todos os agentes públicos Comissionados e representantes Políticos fossem escolhidos por processo de concurso público, onde a valorização do conhecimento tornaria os mais aptos para a função de gestão do governo apenas pelo período de tempo do exercício dos Processos de votação democrática, não superior a quatro anos consecutivos.

No sistema democrático atual o excesso de Agentes Políticos faz com que a eficiência do aparato estatal diminua sensivelmente, pois a verba pública acaba por se perder no meio dos processos intermediários até a chegada ao ponto final demandante da verba específica necessário ao atendimento popular.

O certo é o fato que o interesse particular tende a prevalecer sobre o público, porque os políticos brasileiros, com raras exceções, estabelecem estruturas de patriarcais no comando dos seus atos, em que o objetivo não é o bem comum, mas a continuidade do poder que seu núcleo de interesse, seja familiar ou oligárquico, mantém sobre a sociedade.

Muitos países ainda não saíram da estrutura patriarcal que é transmitida aos herdeiros de geração a geração. A democracia ainda não existiu na maioria dos países que compõem a ONU.

O problema é que o setor privado torna-se refém do monopólio público das estruturas necessárias ao desenvolvimento de uma nação.

As condições necessárias para a manutenção estatal poderiam se condicionar apenas as formas mais genéricas de resolução de conflitos entre particulares e diretrizes estabelecidas por pessoas qualificadas cientificamente, conforme descrito no primeiro parágrafo, para melhor gerir a população como um todo.

Não existe economicidade na atual estrutura Política das nações periféricas. Grande parte dos recursos públicos é canalizada para o pagamento de Agentes Políticos e Comissionados.

A estrutura global partidária é orientada atualmente pela partição ideológica da forma de pensamento não permitindo uma organização funcional da sociedade como um tudo.

A divisão de pensamento por ideologia proporciona o fracionamento das ações que movem um país criando sempre forças antagônicas aos pensamentos de outras correntes ideológicas que não querem determinada ação num sentido.

Qual o real interesse em dividir o a forma de pensar do povo pela crença distinta do rumo em que uma nação deve seguir?

Este modelo de partidos ideológicos já perdura institucionalizando-se no globo por 300 anos e foi responsável por inúmeras guerras e conflitos internos e externos às nações.

Será racional a utilização de um modelo de gerenciamento tão antigo face às transformações que, sobretudo a iniciativa privada ou individual proporcionou à sociedade?
Quando de fato a Democracia será implementada?
Por que os governos tentam sempre apropriar-se de informações que lhes conferem o continuísmo de seus Agentes Políticos no poder?

O que impede a atual globalização seja benéfica é a dicotomia entre interesses governamentais divergentes e a partilha econômica dos particulares que a representam.

Os Políticos são os grandes responsáveis pelos desequilíbrios econômicos por suas políticas de subsídio, impostos e taxas para criação de privilégios de natureza interna e favorecimentos econômicos as suas próprias oligarquias.

Então se cria o vício de culpar o próprio sistema produtivo pela falta de investimento nos setores que tornam os produtos gerados não competitivos. Ou pela disparidade do lucro que onera os produtos tornando-os mais caros em relação a outros mercados ditos mais "racionais".

O mundo atual vive numa Oligodemocracia.
Porque, na maioria dos casos, os próprios políticos são os donos dos meios de produção ou os representam.

Os gestores dos Órgãos públicos são meros representantes Oligárquicos sem compromisso com as instituições ao qual representam e buscam obter vantagens pessoais enquanto perduram os efeitos de sua permanência no cargo em que ocupam, ora pela elevação indiscriminada dos salários, ora pela criação de novas representações nos órgãos tutorados com a finalidade de ampliar a esfera de influência sobre a administração.

Onde fica a eficiência e a economicidade da ação governamental sobre o particular?

É certo que se todo o processo fosse realizado pela representação baseada sobre o conhecimento a exteriorização egoica do ser humano sobre a Administração Pública seria atenuada.

Não resolveria o problema, porque seres humanos são falhos, mas a carga somática contenciosa que ele carrega sobre si estaria restrita à manifestação de suas habilidades técnicas e não oligárquicas.

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Estamos chegando ao final de mais um programa ALESTE da Zona Leste desejando a todos os ouvintes, amigos, colaboradores e seguidores; uma semana cheia de realizações e de sucesso.
BOA NOITE e obrigado a todos pela audiência.

24 janeiro 2013

MASSACRE DO PINHEIRINHO - 1 ano


22 de JANEIRO – PINHEIRINHO – O aniversário de mais uma injustiça. Onde muitos se beneficiaram politicamente durante alguns anos, usando e depois chutando esta população.

A remoção forçada dos moradores da Comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos, resultou em denúncias de abuso de autoridade no local e violação de direitos humanos. Além disso, houve um claro cerceamento à liberdade de imprensa, ocorrido quando não foi permitido o livre acesso ao local.
A reintegração teve início na madrugada do dia 22 de janeiro de 2012. Foram empregados mais de 220 viaturas, 40 cães, 100 cavalos e 300 agentes da prefeitura local para apoio psicológico e social da população. A Comunidade estava localizada na zona sul da cidade de São José dos Campos. O município pertence ao estado de São Paulo, mesorregião do Vale do Paraíba e fica a 94 km da capital paulista.
A desocupação no Pinheirinho é um exemplo de tentativa de criminalização das periferias pela imprensa, com reflexo na opinião pública. Trata-se de um assunto de relevância para a compreensão de um dos maiores massacres ocorridos na região do Vale do Paraíba.
A Comunidade
De acordo com os dados de pesquisa de Andrade (2010, p.73) a data de fundação de Pinheirinho é de 25 de fevereiro de 2004. Inicialmente havia aproximadamente 240 famílias e até 2010 o acampamento ficou oito vezes maior. O terreno pertence a uma massa falida da Selecta S/A, que tem como proprietário o investidor Naji Nahas conhecido nacionalmente por irregularidades praticadas no mercado financeiro.
Segundo relatório do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe – São Paulo) em 2012 já havia mais de 1.500 famílias morando no bairro. Durante todo o período em que a população viveu em Pinheirinho esta conheceu várias formas de preconceitos por parte do setor público municipal. Andrade (2010, p. 76) cita em sua dissertação de mestrado, realizada entre os anos 2008 e 2010, depoimentos de algumas moradoras da Comunidade:
Pergunta: Qual a diferença de morar aqui e de morar lá fora?
“[...] se não tiver médico num lugar, a gente não pode ir num outro postinho. Nos outros bairros também já não aceitavam o Pinheirinho, quer dizer, tipo assim, uma discriminação, né? A gente sofre este tipo de coisa. [...] E os lugares que a gente vai as pessoas falam: ‘Por que você usa luz assim?’ ‘Por que você usa água assim?’ ‘Por que você está lá naquela terra?’ Eles não entendem a situação da gente” [Cláudia].
Meus filhos estudam em escola do Estado, porque na da prefeitura não pega. [...] Eles alegam que a gente não tem uma conta de luz, uma conta de água ou de telefone. [Juliana]
Pergunta: Nos postinhos tem problema?
“Eles não pedem para chamar a gente, não olham na cara da gente. Ainda mais quando é de Pinheirinho. Chega no pronto-socorro aqui, os médicos: O que é aquilo, ali? Com aquela cara, olhando. Aí [ pergunta]: ‘Onde você mora?’ [ resposta:] ‘Pinheirinho’. Aí que demora mesmo!”[Raquel].
Segundo o relatório “A voz das Vítimas”, produzido pelo Condepe (2012), na véspera da reintegração de posse do terreno, dia 21 de janeiro (sábado), houve uma concessão de um prazo de 15 dias fixada em juízo para a negociação entre o governo estadual e federal de uma proposta de políticas públicas integradas entre o município de São José dos Campos, o governo do estado de São Paulo e a União para uma solução fundiária e habitacional para a ocupação. Com isso a Assembleia dos Moradores festejou naquele mesmo dia a suspensão da liminar de reintegração de posse. No dia 22 de janeiro o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) validou a desocupação através de uma liminar emergencial. A ordem expedida pela juíza Márcia Faria Mathey Loureiro manteve a desapropriação do terreno.
Reintegração de posse
Segundo nota divulgada em 22 de janeiro de 2012 pelo Centro de Comunicação Social da Polícia Militar ao todo foram encaminhados ao local mais de 2 mil policiais militares. Foram empregados mais de 220 viaturas, 40 cães, 100 cavalos e 300 agentes da prefeitura local para apoio psicológico e social da população. Também foram utilizadas duas aeronaves Águia da Polícia Militar. Segundo a nota foram detidas 16 pessoas e não houve mortes, nem feridos (Polícia Militar-SP, 2012c).
No dia 23 de janeiro uma outra nota foi divulgada pela PM. A nota esclarece que “a integridade física das pessoas norteou a estratégia para cumprimento da determinação judicial” (Polícia Militar-SP, 2012b). O mesmo texto explica que a PM “agiu com o objetivo de restabelecer a ordem pública” e fez uso “ de técnicas não letais”. Segundo números registrados no site da polícia militar “até às 18h de 23 de janeiro de 2012 foram apreendidas duas armas de fogo, 1.100 invólucros de maconha e 388 pinos para embalar cocaína, também foram localizadas três bombas caseira.” A PM também disponibilizou em seu site um infográfico para compreender a operação em Pinheirinho (Polícia Militar-SP, 2012a).
O líder da comunidade, Valdir Martins, em entrevista concedida à autora deste trabalho, deu sua versão dos fatos e fez denúncias contra a PM de São Paulo:
Aquele vídeo divulgado na internet de um senhor sendo espancado pela PM, ele morreu de traumatismo craniano. A polícia está sendo processada. Duas meninas foram estupradas no acampamento, um rapaz foi estuprado com um cabo de vassoura pela tropa de choque [...].
Foram mais de 600 processos contra o estado de São Paulo por abusos policiais denunciados e desrespeito à população de Pinheirinho. Várias entidades defensoras de direitos humanos questionaram a legitimidade da decisão judicial. O jornalista Aurélio Moraes, do Jornal Nossa Jacareí publicou um vídeo na Internet em 14 de janeiro de 2012 mostrando de que maneira os moradores vinham tantando regulamentar o terreno junto a prefeitura e a tensão no local dias antes da reintegração. (MORAES, 2012). Alguns veículos de comunicação, como a própria Folha de S.Paulo denunciaram a Polícia Militar (PM) como cerceadora da liberdade de imprensa, ocorrido quando não foi permitido o livre acesso ao local de reintegração, bem como aos alojamentos da prefeitura. Por outro lado, uma comissão especial da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil de São José dos Campos aprovou a operação militar no caso Pinheirinho. O relatório divulgado em junho de 2012 pela 36ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil de São José dos Campos descartou violação dos direitos nas condutas da Polícia Militar, da prefeitura e da Justiça na reintegração de posse do Pinheirinho. O documento afirma que “os números nos permitem afirmar com tranquilidade que inexistiu violação dos direitos humanos na conduta geral da Polícia Militar.” O relatório se contrapõe à investigação do Condepe, que denunciou violações aos direitos humanos em março de 2012 (ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, 2012).
O relatório também afirma que “A exploração política e econômica praticada pelos líderes do movimento contra a população carente que se instalou no Pinheirinho pode ser outra importante causa do problema, se não a principal”. Eles acusam líderes da Comunidade, como Valdir Martins, o Marrom, de vender terrenos dentro do Pinheirinho e lucrar com a comercialização dos lotes. No mesmo relatório defendem a juíza Márcia Faria Mathey Loureiro, que autorizou a reintegração de posse. “O feito obedeceu ao devido processo legal e os réus tiveram direito à mais ampla defesa e toda sorte de recursos” (ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, 2012).
Em entrevista, o líder da Comunidade Pinheirinho, Valdir Martins, se defende da acusação e comenta o relatório divulgado pela 36ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil de São José dos Campos (OAB).
Na verdade nunca houve a comercialização de lotes lá dentro. Esse presidente da OAB de São José dos Campos já foi pré candidato a prefeitura da cidade. Ele é do partido do PSDB e fez uma função para o partido que mandou me acusar sem fundamento... Nunca existiu essa comercialização! (MARTINS, 2012).
Na madrugada de 22 de janeiro de 2012 dois mil policiais militares realizaram a reintegração de posse, mas somente na noite do dia 25 de janeiro a polícia concluiu a reintegração. O portal de notícias R7 denunciou em 27 de janeiro de 2012 as condições dos abrigos superlotados. Uma das ex-moradoras de Pinheirinho criticou na entrevista a bolsa aluguel que o Governo do Estado prometeu oferecer aos desabrigados. Na opinião dela a bolsa é insuficiente para uma família de 10 pessoas como a dela, sendo duas portadoras de necessidades especiais (BARBEIRO, 2012).
O líder da comunidade, Valdir Martins, disse que a supervalorização do terreno foi a principal causa da reintegração de posse. Ele também explicou o que representou a perda do terreno para os ex-moradores:
“Para desocupar uma casa leva-se 48 horas, em Pinheirinho em 72 horas eles desocuparam 1.843 casas. Para o rico propriedades são fazendas, iates e apartamentos, para o pobre propriedade às vezes é o próprio filho, o próprio marido, uma foto, uma cadeira, uma mesa. E agora quem vai devolver isso? Uma mãe disse para mim: Marrom, a única coisa que eu tinha de valor não era a casa, a casa eu construo outra, eu tinha um DVD do meu único filho que morreu aos 8 anos, agora eu nunca mais poderei vê-lo. As pessoas perderam mais que casas, perderam coisas pessoais, intimidade, aquele presente que o avô deixou. É comum você encontrar no terreno ainda fotos, cartas [...] 90% perdeu absolutamente tudo. O que houve em pinheirinho foi um estupro social, um crime, um massacre! [...]” (MARTINS, 2012).
A Polícia Militar do estado de São Paulo deixou uma mensagem final sobre o caso Pinheirinho no site da instituição da PM e explica que “em seus 180 anos de existência, sempre trabalhou em consonância com o ordenamento jurídico. E acrescenta que “sua atuação se baliza por três princípios básicos: respeito integral aos direitos humanos, filosofia de polícia comunitária e gestão pela qualidade. Por fim, conclui: “Seu único escopo é o respeito ao cidadão, ao povo brasileiro e às instituições democráticas. E assim continuará, sempre.”
Repercussão Internacional
O jornal britânico Guardian fez críticas ao governo brasileiro por meio de um artigo publicado em 24 de janeiro de 2012. O artigo também questionou a cobertura da grande imprensa e afirmou que os veículos só deram atenção ao caso quando houve repercussão nas redes sociais. O jornal critica as ligações históricas dos jornais brasileiros ao poder político e enfatiza que a imprensa do Brasil falou de Pinheirinho em “tons suaves”, como por exemplo manchetes destacando uma van de uma TV incendiada e uma menor atenção para as casas que foram perdidas pelos moradores (NUNES, 2012).
O processo judicial em torno da posse do terreno é antigo e deve se prolongar em muitas questões. O defensor público Jairo Salvador, de São José dos Campos, em entrevista concedida para o Jornal do Brasil em 1º de fevereiro de 2012, afirma que não há precedentes brasileiros do caso. “O Pinheirinho é só mais um capítulo do extermínio da pobreza, de uma cidade que quer se vender como perfeita. Não tem lei em São Paulo. É só ter força. Cada um cumpre o que quer”. (PSOL..., 2012).
O pesquisador e antropólogo Inácio de Carvalho Dias de Andrade - que conviveu por três anos na Comunidade Pinheirinho, em depoimento à autora deste trabalho, afirmou que a força policial teve respaldo da grande imprensa.

A grande mídia tem um enorme poder em pautar os debates públicos seja pela abrangência de seus meios ou pelo impacto que pode causar, no entanto, tanto no caso do Pinheirinho como o da Cracolândia, ela se ausentou de discutir em profundidade o assunto, suas causas ou outras soluções possíveis. Isso acontece tanto com grandes veículos que pretendem passar uma aura de imparcialidade para o leitor, como aqueles, mais honestos, que assumiram alguma posição nesses casos. Mas o fato é que, passado todos esses meses, eu não vi nenhuma maior discussão ou questionamento sobre o destino ou situação daqueles moradores despejados. O caso paulista é exemplar, mas também poderíamos traçar analogias aqui com outras ações parecidas no Brasil que não recebem atenção devida nos noticiários. Existem obras para a Copa do Mundo no Brasil inteiro nas quais os mesmos problemas vêm ocorrendo. Mesmo o caso da Hidroelétrica de Belo Monte parece abandonado sem alguma discussão aprofundada pelos diversos setores da população. No entanto, para que esse discurso midiático possa ganhar força, ele precisa contar com respaldo discursivos da sociedade, tais como a associação fácil de pobreza a desorganização (ANDRADE, 2012.)
A cobertura da Folha de S. Paulo
As notícias coletadas entre os dias 23 e 30 de janeiro chamam atenção, inicialmente, por dois aspectos: em primeiro lugar pelo excesso de declaração de autoridades locais e nacionais, e em segundo pela pouca “voz” dada aos moradores durante a cobertura jornalística.
Logo no primeiro dia de cobertura da reintegração, segunda-feira, 23 de janeiro de 2012, observamos o uso de definidores primários na cobertura da Folha de S.Paulo. Apenas fontes oficiais deram declarações sobre o ocorrido na chamada de capa do jornal: Polícia Militar (PM), assessor da presidência e “planalto”. As pessoas descritas, todas em cargos institucionais, funcionam como definidores primários, legitimando a informação. Isso porque, como lembra Hall (Hall et. al. apud PENA, 2004, p.178) as primeiras fontes a serem ouvidas sobre um determinado assunto é que vão pautar o debate que será feito em torno desse mesmo assunto na sequencia. Nesse sentido eles definem a angulação e o tom do debate que segue. As fontes oficiais, portanto, possuem grande influência na construção da notícia e refletem a pressão exercida dentro das redações. Além disso refletem a posição editorial, ideológica e política em defesa do proprietário.
Observamos também a referência negativa aos moradores da comunidade. “Moradores incendiaram carros e atiraram pedras contra policiais militares [...]”. A foto da manchete traz uma mensagem sobre a ação policial: a imagem mostra um PM retirando uma mulher com uma criança de colo da área de confronto o que remete a ideia de proteção por parte da polícia. O comportamento da cobertura jornalística revela como os fatos são construidos subjetivamente. A foto Manchete também revela isso. Segundo o próprio Manual da Folha de S.Paulo “uma boa foto pode ser mais expressiva e memorável que uma excelente reportagem”.
A matéria do dia 23 de janeiro, da página C1, com o título “Retirada de famílias deixa rastro de destruição em São José dos Campos” afirma no corpo do texto que carros foram incendiados por moradores. “Seis veículos foram incendiados por moradores, dois deles pertencentes a empresas de comunicação que acompanhavam a ação.” O texto não inclui depoimentos dos moradores confirmando esta acusação. O fato de não trazer a outra versão, mostra o descumprimento do próprio Manual da Folha de S.Paulo, que diz que quando uma informação é ofensiva a uma pessoa, o jornal deve ouvir o outro lado e publicar as duas versões com “destaque proporcional”. O Manual também diz que quando houver publicação de um texto sem ouvir o outro lado, o jornal deve tentar ouvir a fonte no dia seguinte sobre o mesmo assunto.
Enquanto o jornal prioriza o depoimento do comandante da polícia nos primeiros parágrafos, o advogado que representa os moradores, Antonio Donizete Ferreira, aparece ao final do texto com uma declaração superficial do ocorrido no dia. Mais uma vez observa-se a preferência dada aos definidores primários na cobertura do tema.
Na terça-feira, 24 de janeiro de 2012, a Folha traz alguns depoimentos de ex-moradores de Pinheirinho e revela que alguns querem voltar para sua terra-natal. Em seguida a reportagem informa que a prefeitura oferece passagens para quem quiser voltar e que pelo menos 30 aceitaram. Isso representa 0,3% dos 10 mil moradores de Pinheirinho, o que estatisticamente é um número muito pequeno. O jornal generaliza uma situação a partir de uma pequena parcela.
Uma nota que evidencia a prioridade por definidores primários está localizada na página C1 com o título “Decisão do TJ é correta, dizem especialistas”. O texto desta mesmo edição, 24 de janeiro de 2012, defende a ideia de que o procedimento de reintegração no Pinheirinho foi o correto e para comprovar isso a reportagem consulta “especialistas sobre o tema”. A matéria também diz que a PM agiu corretamente em obedecer aos magistrados estaduais. A matéria consiste em entrevista com o professor de direito constitucional da PUC André Ramos Tavares e o advogado Gustavo Rene Nicolau que confirmaram que dificilmente a competência do caso à justiça estadual seria revertida. Analisando esta matéria, podemos remeter ao pensamento de Francisco José Karam (2004) que diz que a objetividade e a subjetividade estão intimamente relacionadas no jornalismo. Podemos observar aqui que a ideia de objetividade é quebrada pelo fato do jornal ter escolhido um especialista que estivesse de acordo com aquilo que o jornal defende. O Manual da Folha estabelece que o cruzamento de informação é obtido cruzando várias fontes para uma informação. “Qualquer informação de cuja veracidade não se tenha certeza deve ser cruzada.” Ou seja, se a Folha quisesse estabelecer um debate dentro dos marcos da objetividade, esta poderia ter ouvido mais especialistas, inclusive com pontos de vista diferentes.
No mesmo dia 24 de janeiro de 2012, o jornal britânico Guardian, citado no segundo capítulo deste trabalho, publicou um artigo com críticas ao governo brasileiro. O artigo questionou a cobertura da mídia e enfatizou que a imprensa do Brasil falou de Pinheirinho em “tons suaves”. A Folha de S.Paulo repercutiu uma breve nota sobre a crítica do jornal britânico três dias depois, em 27 de janeiro. Karam ( 2004) afirma que “não há um fato e várias opiniões e julgamentos, mas um mesmo fenômeno e uma pluralidade de fatos, conforme a opinião e o julgamento.”
Olien, Tichenor e Donohue, são citados por Traquina (2001, p.125). Escrevem os autores: “A reportagem inicial de um contramovimento no sistema será geralmente cética se não hostil, e o problema será definido de acordo com as suas ramificações para as relações de poder existentes”.
Na quarta-feira, dia 25 de janeiro, a matéria da página C4, “Retirada de famílias ignora ação social”, traz entrevista com a defensoria pública do Estado. Segundo a defensoria o atendimento dado aos ex-moradores é precário e foram encontradas pessoas abrigadas próximas a viveiro de pombos e fezes de animais. Alguns sem-teto, segundo a reportagem, preferiram se abrigar em uma igreja. Além disso alguns ex-moradores disseram que suas casas foram demolidas antes que pudessem pegar seus pertences. A matéria se refere aos ex-moradores, mas não acrescenta uma fala de qualquer um deles. Para Felipe Pena (2005) a decisão de publicar algo ou não depende principalmente de uma política empresarial.
Uma outra nota desta quarta-feira, 25 de janeiro, afirma que os sindicatos lideram a resistência que restou no local. A palavra “invasão” é presente em praticamente todas as matérias informativas analisadas neste trabalho. A palavra, possui o sentido de ilegalidade e denota juízo de valor por parte do jornal.
A matéria diz que “grupos de esquerda estão presentes no Pinheirinho desde o início da „invasão? em 2004, e seus líderes sempre foram respeitados como porta-vozes da comunidade.” Podemos observar aqui que “partidos de esquerda” seria uma forma de retirar a legitimidade do movimento dos moradores, já que estaria a serviço de um partido que luta pelo poder e quer desgastar quem está no poder.
Na quinta-feira, dia 26 de janeiro de 2012, a foto da capa da Folha chama atenção: o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, cercado por manifestantes e protegido por um segurança. O texto da chamada de capa do Caderno Cotidiano C1 diz que cerca de 800 manifestantes atiraram pedras e ovos contra o prefeito na saída da missa pelo aniversário da cidade de São Paulo. O protesto era contra as ações da PM na Cracolândia e Pinheirinho. Segundo a Folha, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não compareceu e o prefeito da cidade, Gilberto Kassab lamentou o ocorrido. O repórter não entrevistou qualquer manifestante. Com base nos autores Chomsky e Herman (1997 apud KARAM, 2004, p. 235) o consenso seria produzido por uma elite a qual é detentora de várias empresas e possui influência tanto em instituições públicas quanto privadas vinculadas ao poder político e econômico. A promessa da imprensa liberal de ser porta voz da democracia fica comprometida, pelo fato de não ter sido dado espaço para que o “outro lado” falasse, novamente o jornal não cumpre o próprio manual.
Nesta edição do dia 26 de janeiro, na página C4, a Folha entrevistou o pedreiro Severino Antonio de Jesus Silva e o ajudante de transportes Jamerson Conceição dos Santos. Além disso o jornal denunciou o descaso da prefeitura por não enviar caminhões, ambulância, nem agentes de trânsito para organizar uma caminhada dos ex-moradores por um trajeto de 4km até um abrigo da prefeitura. Uma mulher grávida desmaiou, mas segundo a reportagem, foi socorrida por um policial militar.
Na página C5 encontramos uma matéria sobre a polícia ter restringido o acesso da imprensa durante a operação. Mas esta matéria não tem chamada de capa e tampouco é destaque de página. O discurso de ações isoladas como coletivas e a falta de destaque noticioso sobre o cerceamento à liberdade de imprensa durante a reintegração de posse, comprometem a falta de isenção do jornal por meio da ocultação de fatos relevantes para a contextualização do episódio Pinheirinho.
Na sexta-feira, 27 de novembro de 2012, a Folha não fez chamada de capa sobre o assunto. No entanto, no caderno Cotidiano, há uma página inteira falando sobre a reintegração. Uma das matérias entrevista a relatora especial da ONU para o direito à moradia adequada, Raquel Rolnik. Ela criticou as autoridades brasileiras pedindo explicações sobre o caso.
No sábado, dia 28 de janeiro de 2012, novamente a Folha não fez chamada de capa sobre Pinheirinho. Há apenas uma matéria na página C7 com o título “Prefeito diz que vai priorizar desabrigados”. Começamos a observar que a pauta sobre Pinheirinho já não está mais em relevância como no primeiro dia da cobertura. O pesquisador Inácio de Carvalho Dias de Andrade em entrevista concedida para este trabalho conclui “Mas o fato é que, passado todos esses meses, eu não vi nenhuma maior discussão ou questionamento sobre o destino ou situação daqueles moradores despejados” (ANDRADE, 2012).
Na edição de domingo, dia 29 de janeiro de 2012, a Folha coloca abaixo da dobra uma chamada de capa com uma entrevista com o ex-dono de Pinheirinho. Segundo o próprio site da Folha, o número de tiragem neste dia é de 320.504 exemplares, enquanto nos dias úteis 292.251 exemplares. Ou seja, a reportagem de domingo tem muito mais leitores (Folha de S.Paulo, 2012).
Na página 4 do caderno 2 encontramos a entrevista com Benedito Bento Filho. Segundo ele Pinheirinho era um jardim antes da “invasão” dos antigos moradores. Ele diz: “Antes de ser invadido pelos sem teto, aquilo era lindo, um verdadeiro jardim”.
A reportagem com Benedito Bento Filho, o homem que vendeu a terra a Naji Nahas, ocupa toda a página do caderno 2. Benedito defende Naji Nahas afirmando que o empresário é um amigo e um homem muito “digno” e critica as lideranças dos sem teto. No texto, porém não há qualquer depoimento com um ex-líder ou ex-ocupante do terreno para gerar um debate sobre o tema.
O Manual da Folha diz que “nunca participa de campanhas para enaltecer ou desacreditar pessoas nem serve a interesses particulares de partido político, grupo ou tendência ideológica”. Silveira (2004) no entanto reforça a ideia que a imprensa funciona como um instrumento político da classe dominante para manter o status quo. Nas palavras do próprio autor “ [...] a produção de notícias trata os fatos como mitos, evita uma leitura crítica sobre a realidade e busca silenciar os grupos não conformistas, transformando a imprensa num meio de manipulação ideológica.”
Considerações finais
Foram identificados elementos de criminalização social e manipulação da informação por parte do jornal Folha de S.Paulo. O uso de autoridades como definidores primários reflete a pressão exercida dentro das redações, além de transparecer a posição editorial, ideológica e política em defesa do proprietário. O discurso de ações isoladas como coletivas e a falta de destaque noticiosa sobre o cerceamento à liberdade de imprensa são outros exemplos de manipulação.
Este trabalho nasceu de uma perturbação: de que maneira a Folha fez a cobertura do Caso Pinheirinho? Que fontes o veículo utilizou para as reportagens ? O jornal privilegiou algum lado? E o histórico de denúncias de estupro, abuso de autoridade no local e violação de direitos humanos foram pautados pelo veículo? A criticidade na cobertura do jornal foi aquém do que se esperava.
Foi percebido que os ex-moradores tiveram pouco destaque nas reportagens, as fontes oficiais são usadas prioritariamente durante toda a cobertura do jornal. Algumas acusações foram feitas aos ex-moradores sem ao menos escutá-los. A Folha descumpriu com o próprio Manual quando afirma que o veículo deve ouvir e publicar as duas versões com “destaque proporcional”. Até mesmo o jornal britânico The Guardian questionou a cobertura da grande imprensa brasileira e afirmou que os veículos só deram atenção ao caso quando houve repercussão nas redes sociais. O jornal disse que a imprensa do Brasil usou “tons suaves” para reportar o Caso Pinheirinho.
A cobertura informativa da Folha não mostrou os dois lados proporcionalmente, principalmente quando permitiu na edição do dia 30 de janeiro, edição de domingo e de maior peso, uma página inteira para um ex-proprietário do terreno, Benedito Bento Filho. A página , do caderno 2, destaca sua fala quando diz que o terreno era um jardim, antes da “invasão” dos sem-teto.
O próprio uso da palavra “invasão” e não “ocupação” também revela parte da ideologia do veículo. A palavra, possui o sentido de ilegalidade e denota juízo de valor por parte do jornal. As fotos de manchete também trouxeram mensagens ideológicas da Folha, como a da capa no primeiro dia de cobertura.
Somos assim levados a questionamentos sobre a cobertura informativa da Folha de S. Paulo envolvendo reintegrações de posse e movimentos sem-teto no país. O veículo seguiria o mesmo padrão jornalístico do Caso Pinheirinho com outros casos relacionados?

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